sexta-feira, 30 de abril de 2010

O sinal arroba designando endereço eletrônico completou 33 anos. Quem inventou o sistema de troca de mensagens por computadores precisava separar destinatário e provedor. Era necessário um sinal gráfico, disponível em todos os teclados, que não fizesse parte dos nomes das pessoas e dos provedores. Por que escolheu o sinal de arroba? Outras opções, como o asterisco e o cifrão, talvez pudessem ser aproveitadas, mas Ray Tomlison, americano, preferiu o simples.
Corria o ano de 1971. Se fosse alemão, talvez fiel ao ditado famoso "por que o simples, se o complicado também serve?", que parece lema da burocracia brasileira, sua escolha tivesse sido outra. Por exemplo: seriam exigidos requisitos para enviar, como reconhecer firma, autenticar cópias, providenciar três vias, molhar o carimbo, enxugar as mãos numa toalha etc.

Os inventores não têm o reconhecimento que merecem. O brasileiro Alberto Santos Dumont inventou o avião, o meio de transporte mais rápido que existe e ainda não superado, se o que você quer é viajar aqui na Terra e não no espaço sideral. Quantos se lembram dele quando embarcam? Talvez fosse de bom tom inserir seu nome como homenagem para amenizar o tom enfadonho dos avisos habituais que as aeromoças são obrigadas a declinar quando o avião está prestes a decolar.

Os inventores do liquidificador, das máquinas de lavar roupas e louças, do aspirador e de outros eletrodomésticos também contribuíram para a libertação feminina. Precisamos prestar atenção a detalhes como esses. Escritoras feministas já nos advertiram do machismo nos dicionários. Sugiro ao leitor, para encurtar este exemplo, que compulse os dicionários e compare os verbetes "homem" e "mulher". Os aumentativos e diminutivos já dão uma idéia da ideologia subjacente. Entre homenzarrão e homão, e mulherão e mulheraça, há mais significados embutidos do que supõe nossa vã filosofia.

O conhecimento de tais usos da língua raramente aparece nas gramáticas ou é ensinado nas escolas, ainda que indispensáveis. Aliás, você nunca se irritou com as instruções escritas de outro meio de transporte, o elevador? "Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo está no andar." E antes de sair? Não será necessário aviso semelhante? "Antes de descer no andar, verifique se o mesmo está aí."

Voltemos ao computador, um dos mais recentes eletrodomésticos, que hoje convive com a televisão, o rádio e o som, este último já reduzido de aparelho de som, tendo substituído antes o fonógrafo, a vitrola, a eletrola. O e-mail (abreviação de "electronic mail", correio eletrônico) há tempos substitui a carta tradicional.

O sinal de arroba, antes designando apenas medida de peso equivalente a mais ou menos 15kg, veio do árabe "ar-rub", mas consolidou-se com o significado de indicação de endereço porque o inglês já o usava como sinônimo de "at" (em), por meio da abreviatura que designou originalmente a medida correspondente.

O novo significado do símbolo luminoso remete-nos, paradoxalmente, à Idade das Trevas, como tem sido concebida erroneamente a Idade Média. Foram copistas medievais que inventaram o sinal de arroba como sinônimo do latim "ad", que indica em, para. O inglês grafou "at" em vez de "ad". Foram eles também que inventaram o asterisco (*), o "e" com o sinal de sociedade (&), o cifrão ($), o pingo no "i" e a separação das palavras na frase, além do ponto, da vírgula e de outros sinais indispensáveis à compreensão do texto. Afinal, a frase latina "in diebus illis" (naqueles dias) transformou-se em sinônimo de dificuldade, aportuguesada para busílis, porque o copista tinha separado erroneamente as palavras. O inventor da arroba separou corretamente.


[JB - Coluna Língua Viva - 29/11/2004 - teresa97@terra.com.br]

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